Também este ano, na vigília do quarto Domingo de
Quaresma, nos reunimos para celebrar a liturgia penitencial. Estamos
unidos a tantos cristãos que, hoje, em todas as partes do mundo,
aceitaram o convite para viver este momento como sinal da bondade do
Senhor. Com efeito, o Sacramento da Reconciliação permite que nos
aproximemos com confiança do Pai para ter a certeza do seu perdão. Ele é
deveras «rico em misericórdia» e difunde-a em abundância sobre quantos a
Ele recorrem com coração sincero.
Contudo, estar aqui para experimentar o seu amor é em primeiro lugar
fruto da sua graça. Como nos recordou o apóstolo Paulo, Deus nunca deixa
de mostrar a riqueza da sua misericórdia no decorrer dos séculos. A
transformação do coração que nos leva a confessar os nossos pecados é
«dom de Deus». Sozinhos não somos capazes. Poder confessar os nossos
pecados é um dom de Deus, é uma dádiva, é, «obra sua» (cf. Ef 2,
8-10). Por conseguinte, ser tocados com ternura pela sua mão e plasmados
pela sua graça permite que nos aproximemos do sacerdote sem recear
pelas nossas culpas, mas com a certeza de sermos por ele acolhidos no
nome de Deus, e compreendidos não obstante as nossas misérias; e também
que nos aproximemos sem um advogado defensor: temos um só, que que deu a
sua vida pelos nossos pecados! É Ele que, com o Pai, nos defende
sempre. Ao sair do confessionário, sentiremos a sua força que volta a
dar vida e restitui o entusiasmo da fé. Depois da confissão renascemos.
O Evangelho que ouvimos (cf. Lc 7, 36-50) abre-nos um caminho
de esperança e de conforto. É bom sentir sobre nós o mesmo olhar
compassivo de Jesus, assim como o sentiu a mulher pecadora na casa do
fariseu. Neste trecho repetem-se com frequência duas palavras: amor e juízo.
Há o amor da mulher pecadora que se humilha diante do Senhor; mas ainda antes há o amor misericordioso de Jesus por
ela, que a estimula a aproximar-se. O seu choro de arrependimento e de
alegria lava os pés do Mestre, e os seus cabelos enxugam-nos com
gratidão; os beijos são expressão do seu afecto puro; e o perfuma que
deitou com abundância confirma quanto Ele é precioso aos seus olhos.
Cada gesto desta mulher fala de amor e exprime o seu desejo de ter uma
certeza inabalável na sua vida: ser perdoada. Esta certeza é uma boa
certeza! E Jesus dá-lhe esta certeza: acolhendo-a demonstra-lhe o amor
de Deus por ela, precisamente por ela, uma pecadora pública! O amor e o
perdão são simultâneos: Deus perdoa-lhe muito, perdoa-lhe tudo, porque
«amou muito» (Lc 7, 47); e ela adora Jesus porque sente que n’Ele
há misericórdia e não condenação. Sente que Jesus a compreende com
amor, a ela, que é uma pecadora. Graças a Jesus, Deus esquece os seus
muitos pecados, não os recorda mais (cf. Is 43, 25). Porque
também isto é verdade: quando Deus perdoa, esquece. É grande o perdão de
Deus! Agora para ela começa uma nova fase; renasceu no amor e numa vida
nova.
Esta mulher encontrou deveras o Senhor. No silêncio, abriu-lhe o seu
coração; na dor, mostrou-lhe o arrependimento pelos seus pecados; com o
seu choro, apelou-se à sua bondade divina para receber o perdão. Para
ela não haverá juízo algum a não ser o que vem de Deus, e este é o juízo
da misericórdia. O protagonista deste encontro é certamente o amor que
vai além da justiça.
Ao contrário Simão, o dono de casa, o fariseu, não consegue encontrar o caminho do amor.
Tudo é calculado, reflectido... Permanece firme no limiar da
formalidade. Isto é mau, o amor formal, não se compreende. Não é capaz
de dar o passo seguinte para ir ao encontro de Jesus que o leva à
salvação. Simão limitou-se a convidar Jesus para almoçar, mas não o
recebeu deveras. Nos seus pensamentos invoca apenas a justiça e fazendo
assim erra. O seu juízo sobre a mulher afasta-o da verdade e nem
sequer lhe permite compreender quem é o seu hóspede. Deteve-se à tona —
na formalidade — não foi capaz de ver no coração. Diante da parábola de
Jesus e da pergunta sobre qual foi o servo que mais amou, o fariseu
responde correctamente: «Aquele a quem perdoou mais». E Jesus não deixa
de lhe fazer observar: «Julgaste bem» (Lc 7, 43). Só quando o juízo de Simão se orienta para o amor, ele é justo.
A chamada de Jesus leva cada um de nós a nunca se deter na superfície
das coisas, sobretudo quando estamos diante de uma pessoa. Somos
chamados a olhar para além, a fixar o coração para ver de quanta
generosidade cada um é capaz. Ninguém pode ser excluído da misericórdia
de Deus; todos conhecem o caminho para aceder a ela e a Igreja é a casa que acolhe todos e não rejeita ninguém.
As suas portas permanecem abertas, para que quantos são tocados pela
graça possam encontrar a certeza do perdão. Quanto maior for o pecado
maior deve ser o amor que a Igreja manifesta em relação àqueles que se
convertem. Com quanto amor Jesus olha para nós! Com quanto amor cura o
nosso coração pecador! Nunca se assusta com os nossos pecados. Pensemos
no filho pródigo que, quando decide voltar para o pai, pensa no que lhe
deve dizer, mas o pai não o deixa falar, abraça-o (cf. Lc 15,
17-24). Assim faz Jesus connosco. «Pai, cometi tantos pecados...» — «Mas
Ele ficará contente se tu fores: abraça-te com tanto amor! Não tenhas
receio».
Queridos irmãos e irmãs, pensei muitas vezes no modo como a Igreja
pode tornar mais evidente a sua missão de ser testemunha da
misericórdia. É um caminho que começa com uma conversão espiritual; e
devemos percorrer este caminho. Por isso decidi proclamar um Jubileu extraordinário que tenha no seu centro a misericórdia de Deus. Será um Ano Santo da Misericórdia. Queremos vivê-lo à luz da palavra do Senhor: «Sede misericordiosos como o Pai» (cf. Lc 6, 36). E isto sobretudo para os confessores! Muita misericórdia!
Este Ano Santo terá início na próxima solenidade da Imaculada
Conceição e concluir-se-á a 20 de Novembro de 2016, Domingo de Nosso
Senhor Jesus Cristo Rei do Universo e rosto vivo da misericórdia do Pai.
Confio a organização deste Jubileu ao Pontifício Conselho para a
Promoção da Nova Evangelização, para que o possa animar como uma nova
etapa do caminho da Igreja na sua missão de levar o Evangelho da
misericórdia a todas as pessoas.
Estou certo de que toda a Igreja, que tem tanta necessidade de
receber misericórdia, porque somos pecadores, poderá encontrar neste
Jubileu a alegria para redescobrir e tornar fecunda a misericórdia de
Deus, com a qual cada um de nós está chamado a dar conforto a todos os
homens e mulheres do nosso tempo. Não nos esqueçamos de que Deus perdoa tudo, e Deus perdoa sempre.
Não nos cansemos de pedir perdão. Desde já confiamos este Ano à Mãe da
Misericórdia, para que dirija para nós o seu olhar e vele sobre o nosso
caminho: o nosso caminho penitencial, o nosso caminho com o coração
aberto, durante um ano, para receber a indulgência de Deus, para receber
a misericórdia de Deus.